Name:
Location: Rio de Janeiro, RJ, Brazil

Sunday, February 11, 2007

José e seus irmãos - a espera

"Uma espera, e nada mais, é uma tortura. Ninguém aguentaria ficar sentado sete anos ou sete dias, ou andar para baixo e para cima e esperar, como se pode aguentar talvez durante uma hora. Isto não pode dar-se nas unidades maiores de tempo, porque a espera se alonga e se esgarça, ficando mais densamente ocupada com o mero viver, de forma que durante longos períodos ela se torna vítima do puro esquecimento, isto é, se recolhe às profundezas da alma e já não está conscientemente presente. Assim uma meia hora de pura e simples espera é mais temível e uma prova mais cruel para a paciência do que uma espera que se estende por sete anos de vida. O que esperamos para daí a pouco nos afeta precisamente por causa da sua proximidade, como um estímulo muito mais penetrante e mais imediato do que se estivesse afastado; transforma a nossa paciência em impaciência arrasadora dos nervos e dos músculos, torna-nos mórbidos; não sabemos mesmo que fazer com os nossos membros; ao passo que uma espera de longo prazo nos deixa em paz; ela não somente permite, mas nos força a pensar em outras coisas e a fazer outras coisas, porque temos de viver. Tal é a origem desta surpreendente verdade: seja qual for o grau de ânsia com que esperamos, não o fazemos com mais dificuldade, porém mais facilmente, quanto mais distante no tempo ficar o alvo de nossas esperanças."
MANN, Thomas. José e seus irmãos. Tradução de Agenor Soares de Moura. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000

0 Comments:

Post a Comment

<< Home